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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ouro e Pó

No começo, aqueles gemidos incomodavam. Mas agora, eles estavam acostumados. Estavam presos naquele buraco a sabe Deus quantos dias, comendo suprimentos em decomposição.
A mina era antiga, os pais de quase todos eles tinham trabalhado nela. Velha, sim, mas tinha a estrutura mais resistente e impressionante que a única mulher dentre os trabalhadores, e única forasteira também, já tinha visto. Trabalhava com extração de metais desde o momento que conseguiu manejar com perfeição uma picareta, e, desde que seu pai morrera, ela viajava sempre que enjoava de uma estrutura.
Esta, entretanto, a fizera permanecer por cinco longos anos na mesma cidade. Agora, ela dizia para si mesma que devia ter ido quando teve chance. Mas a mina era incrível, e constantemente em expansão; cada vez mais fundo, ela mal tinha tempo de ver o mesmo setor por mais de uma semana. Casara com um médico, tivera dois filhos, o tipo de laço que uma viajante nunca poderia ter formado.
Agora, lá estava ela, sabe Deus quantos metros abaixo do solo, presa com cinco homens borrados de medo em uma curva que não tiveram tempo de transformar em qualquer coisa. Os outros, quase duzentos ao todo, estavam no corredor principal, gemendo em uma agonia, a princípio amedrontadora, mas agora simplesmente cansativa.
Ela se lembrava como se fosse a poucos instantes quando o grupo em que estava abriu um buraco para uma câmara gigantesca. Um enorme lago ficava quase no centro, deixando que a faixa de terra se alargasse à direita deles. Haviam destroços que pareciam de casas, fogueiras apagadas e uma espécie de cemitério.
Avisado sobre, o presidente da empresa em pessoa tinha decido até lá. Parecia feliz demais com aquilo, mandando que um grupo fosse até lá e revistasse tudo. A mulher estava na curva em que ficou trancada, escavando-a, quando o desgraçado passou correndo, as roupas rasgadas, sangrando, abraçado com força em um livro. Logo atrás dele, vinham cerca de mais que o dobro do grupo que entrara na câmara, todos gemendo e chorando. Ao vê-los passar, ela pensou que eles estavam machucados, mas conforme alguns ficaram, indo em direção aos outros mineiros, a mulher percebeu como eram.
Uma mulher parou bem enfrente a entrada da curva, desequilibrada. Sua pele era cinza, rasgada e purulenta, com larvas gordas se rastejando por cima e comendo-a, formando buracos e entrando. Um dos olhos era um buraco vazio, à exceção dos vermes. O maxilar estava preso apenas de um lado, balançando de acordo com o pender do corpo para frente e para trás. Ela gemia, e seu lamento era quase um choro. Assustada, a mineira, assim como seus companheiros, ficou paralisada, sem ao menos respirar, enquanto a mulher se decompondo tomava a direção oposta.
Mas agora o medo não superava a fome, o cansaço, a saudade e a preocupação. Decidida, comunicou o que iria fazer e levantou-se. Pegou sua picareta e rumou para a entrada da "gruta" sem esperar qualquer apoio de seus companheiros. Ela sabia que assim, eles a seguiriam sem questionar; eram frouxos demais para correr o risco de nunca mais sair por medo de tentar. E, exatamente assim, o fizeram.
Sabe Deus lá qual a chance deles realmente conseguir, mas ela preferia não pensar. Apenas segurou sua picareta com força e, quando saiu pro corredor, esperou que aquelas coisas se virassem na sua direção. Não precisou esperar mais que segundos. Ela só não contava com duas coisas: que suas pernas estivessem tão fracas e que os monstros fossem tão rápidos.
Rezando para que as larvas tivessem amolecido o crânio, ela bateu com a ponta da picareta com toda a força que possuía no lado da cabeça do primeiro que se aproximou. Surpresa, viu a ferramenta entrar e sair como se atravessasse um monte de terra. Sangue, miolos e pedaços de ossos voaram para todos os lados, e o corpo caiu, tremendo, mas sem qualquer gemido.
Sempre atacando, os seis avançaram. E sempre atacando, cinco deles viram o último ser derrubado quando uma daquelas coisas lhe puxou a perna. E sempre atacando, eles não conseguiram ajudar o mineiro da coisa sem pernas que lhe mordeu a panturrilha, nem a outra que caiu de joelhos e lhe rasgou o abdômen com as unhas.
Eles se perderam uma vez, entrando em uma curva antes da que deveriam, e viram outro colega perecer por causa disso. E logo após a terceira morte, eles puderam avistar a luz do sol. O vento quente do deserto lhes lambendo a pele, levantando uma camada de areia que lhes arranhava as canelas.
Ainda ouviam com perfeição seus três mortos implorarem por ajuda, gritando de dor e desespero. As lágrimas manchavam seus rostos, entrecortando a sujeira de suas faces.
Antes de partirem para a cidade, tentando se lembrar das ações do marido, a mulher amarrava pela terceira vez um ferimento no braço de um dos homens com a camisa rasgada do outro. Fora mordido lá dentro, e o ultimo companheiro morrera salvando-o, mas nada parecia estancar o sangue.

7 comentários:

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  2. EEEEERIK!! O.O
    'tá parecendo aquele filme "Madrugada dos Mortos" AUHSIUASHIAUHSIAHSIUH'
    'tá show! gostei, de verdade! já disse e repito, você escreve muuuuuito bem! escreva um livro de terror como R.L. Stine e você vira trilhonário! ^^'
    Te adoroooo!! :*

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  3. Cara, eu gostei vou copiar para o meu blog tá bom?

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  6. Tiago, pode postar sim meus contos em teus blogs, desde que dê os devidos créditos.
    Os contos aqui são todos meus, escritos por mim.

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