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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Abraço

Ela me olhou e sorriu. Diminuiu a distância entre nós com dois passos... e me abraçou.
Por um momento não tive qualquer reação, qualquer pensamento; minha mente se perdeu no susto e meu sorriso amoleceu, inconsistente perante o contato, desnecessário devido a proximidade. Vi o rosto dela sumindo pela direita do meu, afundando em meu ombro esquerdo: poderia jurar, hoje, que sentia a respiração dela contra o meu pescoço, tentando roubar qualquer aroma meu agradável à seu olfato... mas era eu que tentava aspirá-la para dentro de meus pulmões o mais inaudível e insensível possível a ela.
O coração pulsava cada vez mais forte, desde de parara quando a vi, de repente, trocando aquele “primeiro” olhar, aquele “primeiro” sorriso, e eu me esforçava para que ela não o sentisse. O susto se fora tão rápido quanto viera através de um ato tão corriqueiro, mas meus braços se mantiveram imóveis ao lado do meu corpo. Tudo que eu queria era envolver sua cintura, mas não me mexi...
Sentia seu rosto contra meu ombro e seus braços me puxando mais e mais para junto dela por vontade própria. Meus olhos quiseram se encher de lágrimas e um nó se formou em minha garganta. Poderia jurar que ela me apertou mais forte contra seu corpo quando meu rosto afundou em seus cabelos, e foi essa sensação – talvez mentirosa, que talvez eu tenha criado porque esperava, porque queria que fosse isso que tivesse acontecido – que fez meus braços se erguerem para envolvê-la.
“Seu puto”, ela disse, quando nos afastamos e nos olhamos, para depois nos abraçarmos novamente. Poderia jurar que ela segurava o choro, mas talvez fosse mais um engano, talvez apenas eu sentisse vontade de chorar. Ou talvez, só talvez, minha mente estivesse tão sóbria, tão séria e sem qualquer imaginação... talvez, só talvez, não fosse só a minha, mas a nossa verdade.
O abraço pareceu durar a eternidade, e tudo que eu queria era que não acabasse. Meus lábios adormeceram, esperando pela pele dela... ... Nunca pensei que um abraço pudesse ser tão bom, tão aconchegante; que através de um abraço fosse possível sentir-se finalmente em casa; que o mundo finalmente fizesse sentido. Nunca pensei que ela me abraçaria com vontade, numa vã tentativa de afogar uma saudade que não deveria existir.
Então nos afastamos. O sorriso voltou aos nossos rostos: o dela, lindo, o meu, incerto e educado. Queria puxá-la de volta, morrer naquele abraço para nunca mais sentir seu corpo descolando do meu, para nunca mais sentir o ar frio tocando meu peito, meu abdômen, o lado de dentro dos meus braços. Queria beijar seu rosto todo: as maçãs do rosto, o nariz, a testa, os lábios. Queria que o tempo parasse naquele instante, que eu pudesse abraçá-la de novo e tudo ficássemos assim para sempre. Queria qualquer eternidade, qualquer porção de verdade que me permitisse ter certeza de que ela sentia o mesmo que eu.
Ela recuou os dois passos, ampliou um sorriso – que talvez tenha tremido, vacilado – e saiu pela porta. Quis esticar o braço, chamá-la, puxá-la de volta. Fiquei quieto, vendo-a se afastar, antes de ter forças para impulsionar um corpo com o peito vazio para frente e vê-la levar um coração sem ter ideia de que o tinha consigo.