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domingo, 2 de dezembro de 2012

Feliz, feliz

O quarto estava escurecido, banhado apenas por uma bruxuleante luz azulada. Também estava repleto de um agradável cheiro de morango, vindo dela. Meu coração batia acelerado, mas eu continuava em pé, no meio do caminho entre a cama e o banheiro. Da porta, ela me olhava.
Eu não sabia bem o que estava fazendo ali. Me deixei levar. Havíamos conversado. Ela havia me beijado de repente. Tinha me convidado para uma cerveja, e eu, fraco, no primeiro copo já estava meio tonto. Entrei em seu carro, e enquanto rodávamos, a mão direita dela só deixava minha coxa esquerda para trocar a marcha. O vento batia em meu rosto pela janela aberta, enquanto ela acelerava mais. Eu fechei os olhos, entre um bem e um mal estar, quando ela me “acordou”: sua mão descera para a parte interna da coxa, e subira até a minha virilha. Instintivamente, fechei as penas. Ela sorriu com um barulhinho alto na garganta, e pressionou os dedos contra mim. Me traí, e num olhar rápido para meu rosto que avermelhava, seu sorriso aumentou.
Permanecia vestido, inseguro, estático onde ela havia me deixado quando entrou no banheiro. Agora ela me olhava da porta, a luz deixando seu rosto mais bonito, seu olhar mais voraz e seu sorriso mais malicioso. Ela havia pego uma caixinha em cima do frigobar, mas não vi do que se tratava. À minha frente, vestindo apenas uma calcinha, pelo cheiro de morango, eu desconfiei do que se tratava a caixa.
Ela caminhou na minha direção, um passo lentamente após o outro, um pé exatamente a frente do outro. A luz brincava com as sombras em sua face, provocadas pelo cabelo solto que emolduravam seu rosto. Me envolvendo pela cintura, ela me olhou nos olhos, o sorriso desaparecendo.
- Tu não quer?
Eu respondi com um beijo, mas meus braços permaneceram estáticos. Me beijando, ela puxou meus braços para seu corpo. Por cima de seu braço, coloquei a mão na parte baixa de suas costas e pressionei seu corpo contra o meu. Com a outra mão, toquei seu rosto, pressionei sua nuca. Podia sentir sua pele quente mesmo por cima da roupa.
O beijo parecia nunca mais terminar. Ela tocou meu abdômen indefinido. Arranhou minhas costas. Nossas bocas se separaram por milésimos de segundo enquanto tirava a minha camiseta. Acho que senti seus mamilos antes de sentir o calor de seus seios. Ela arrancou meu sinto, enquanto eu puxava seus cabelos da nuca, fazia sua cabeça pender para trás, e eu beijava seu pescoço e a base de suas orelhas.
Logo meu mundo era a sombra de seus cabelos, a luz revelando vez ou outra seu sorriso, e o peso de seu corpo sobre o meu. No começo, minhas mãos foram recolocadas por ela em seu corpo. Por motivo ou outro, demorou para eu me sentir tranquilo para tocá-la a vontade. Por outro lado, as mãos dela corriam pelo meu, quando não pressionavam meu peito para apoiar-se com as costas quase eretas.
Chegou a me arranhar com as unhas vez ou outra, mas tinha uma predileção por me morder. Seus dentes afundavam e arranhavam minha pele, por toda a extensão do pescoço aos ombros. Uma de suas dentadas, no braço esquerdo, foi forte o suficiente para que eu soltasse um grito involuntário.
- Doeu?
- Sim – respondi entre os dentes
- Tu mereceu.
Seu sorriso, naquela luz, foi terrível. Deveria ser daquele jeito que se sentiam os parceiros das viúvas-negras. Meu corpo retesou involuntariamente, e ela fez de novo aquele risinho na garganta: eu havia retesado todos meus músculos. Ela também retesou os dela, e mordeu a minha orelha de leve.
- Calma – disse, antes de me morder, e meu corpo instintivamente relaxou – Mas não tanto – e riu, apertando novamente “aqueles” músculos.
Ela controlava totalmente a situação, mas por algum motivo eu começa a me sentir mais tranquilo nas mãos dela... ou em seus dentes. Foi quando ela jogou seu corpo para trás, as mãos pressionando meu peito até o ar fugir de meus pulmões, as unhas rasgando a minha pele. Seu cabelo voou com o movimento para longe de seu rosto, mas só pude ver sua expressão pelo espelho no teto.
Só pude ver sua expressão por um único instante, até minha visão desaparecer. Era o peso, o cheiro, a pele. O corpo por onde minha boca tinha viajado, que parecia parte comum ao meu.
Deitada em cima de mim, agora finalmente no escuro, eu a sentia sorrir, com seu rosto em meu peito. Ela suspirou duas palavras: “Feliz, feliz”. E eu, ali, sorrindo, todo mordido.

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