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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Projétil

O homem tirou uma bala do cinturão com o indicador e o polegar e segurou-a. Olhou o projétil brilhando a luz do sol, o metal polido quase servindo de espelho. Pôs o objeto na boca e chupou-o em um beijo de despedida, recolocando-o na arma.
Olhou para a coisa a seus pés, rezando desesperada e quase silenciosamente, e girou o tambor. "Não", implorou o rascunho de homem, covarde demais para encarar a morte de pé, "Tenho família, mulher e filhos, uma mãe doente pra cuidar". O matador focou seu olhar nos olhos do maricas à sua frente, pensando em quantas vezes já ouvira aquilo e... suspirou fundo, desejando rasgar a garganta do borra-botas com seu facão e poder voltar para casa de uma vez: o afrescalhado começara a chorar.
- Te levanta, cria dos infernos, que assim vais é virar concubina do Pé-preto! - gritou com raiva - Sejas homem macho pelo menos na hora da morte! Mantenhas a tua honra ou vais destruir a minha também! E se o fizeres, podes ter certeza que te trago de volta só para te matares de novo e ter minha vingança! - era engraçado como aquilo sempre funcionava, ele só não sabia se era o que ele dizia ou como ele dizia, e tinha de se controlar para não dizer coisas sem sentido para descobrir.
Ergueu o revolver de cano largo e comprido, encostando-o na testa do infeliz. "Tu sabes que tens três chances, não?", e o viado concordou acenando a cabeça, forçando-se a engolir o choro. Claro que sabia, tinha visto de dentro do carro todo o ritual que mandara um de seus sócios para o além.
Aquela não era a primeira vez que aquilo acontecia, afinal, ele não era um homem muito cuidadoso. Cuidado em demasia era para quem tinha o que perder, e só fracos tinham fraquezas. Entretanto, era a primeira vez que o curioso era outro pelo qual a morte já estava paga. Riu, pensando que aquele deveria ser, sim, seu dia de sorte, e que tinha de acender o dobro de velas na igreja.
Girou o revolver, como um cowboy dos bang-bang do cinema, encostou o cano novamente na testa da coisa e, antes que ele pudesse ao menos fechar os olhos, puxou o gatilho. Sentiu um desespero pelo estalinho seco e um líquido quente escorrendo abaixo de seu joelho, não necessariamente nesta ordem. Olhou para a coisa nua a seus pés, que acabara de se mijar toda, e chegou a duvidar da dádiva de seu santinho, repreendendo-se logo em seguida e obrigando-se a acender o dobro do dobro das velas quando chegasse na igreja.
Se perguntando se era realmente piedoso, e com quem era piedoso, mandar que as vítimas tirassem as roupas para que não sofressem qualquer dano desnecessário, puxou novamente o gatilho, quase sem perceber, descumprindo o seu ritual de conversar com os pelados ajoelhados para acalmá-los. Estava com raiva daquele serzinho insignificante e queria acabar com aquilo logo. Puxou o gatilho de novo ao ouvir o estalar baixo, e pela terceira vez sua arma lhe deixou na mão.
- Vai! - gritou, jogando a cabeça com ódio para o lado, indicando o caminho.
O frouxo mal levantou-se e já saiu correndo, tropeçando, arrastando uma das mãos no chão em busca de apoio. Quando ele estava nem bem a 10 metros, correndo com as coisas balançando para baixo e as mãos balançando para cima, o assassino pressionou o gatilho. Assim que a arma falhou, ele puxou de novo só para ouvir pela quinta vez o estalo oco.
Suspirou e fez mira direto na cabeça. Segurando a arma com as duas mãos, e pensando em seu santinho, atirou pela sexta vez. Ouviu a explosão e pode ver a bala rasgando o ar em direção à nuca. Viu o momento exato da colisão, o tiro acertando, rasgando, fazendo pele, carne, sangue e ossos voarem por todos os lados.
Encostou o cano fervente do disparo no antebraço esquerdo. Urrando de dor, aquela era, desde o primeiro homicídio, sua primeira forma de expiação.
Ainda tentava conter as lágrimas, mantendo o cano que esfriava contra a pele ardida, quando se afastou da cena buscando a cidade mais próxima com um lugar para comprar suas oito velas e pelo menos uma capelinha para acendê-las.

5 comentários:

  1. Jesus Erik... você é mal! O.O AUHSIUAHSIUASHUH'
    ameeeeeeei a história, intrigante, só não entendi uma coisa, se ele não gostava de fazer aquilo, pq fazia???? =/ os caras que eles matavam eram malvados? rsrs
    Te adoro beeijos e amo suas historias, por mais terroristas que seja!! ;P
    beijooooooooooooooooooooooooooooos!! :***

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  2. ONDE eu disse que ele não gostava?????

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  3. ué, ele não quer ir na igreja rezar???? O.O
    dá a entender que ele não gosta de matar as pessoas! me explica então please!! ^^'

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  4. Ele vai à igreja rezar pelas almas dos que matou e para expiar os pecados. Isso não significa que ele não goste da profissão que tem, ou qualquer coisa nesse sentido.
    Tu já viu Lisbela e o Prisioneiro???

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  5. aaaaaaaaaaaaaahn tá!! ASAUSAISAISJ
    entendi!! :D bem bolado!! ^^'
    já já, já vi siim!! não gosto de filme nacional! =/ mas amei sua historia, bem bolada, me confudiu!! AUIHSAUISHIAUSHIUSAH
    te adoro! HASTA! o/

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