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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Lábios da Morte

Estava apavorado. Olhava fixo para a cena à minha frente. O rosto oculto atrás do pescoço e cabelos de Amanda lançava um olhar terrível na minha direção, como se quisesse me hipnotizar. Não sei se estava funcionando, ou se era simplesmente o horror, mas eu estava completamente paralisado.
Pude ouvir o som da pele e da carne rasgarem quando a criatura levantou a cabeça sem abrir a mordida. Sangue respingou no meu rosto e dentro da minha boca esquecida em uma exclamação muda de surpresa e horror. Ela relaxou um braço, levando a outra mão aos lábios. Amanda caiu no chão como um pesado saco de lixo.
A coisa passou o dorso da mão na boca como se quisesse limpar o sangue, espalhando uma mancha rubra para a maçã do rosto. Sorriu e ofereceu a mim. Com muito esforço, consegui apenas olhar o corpo inerte no chão, e uma lágrima escorreu de meu olho. Ela se moveu, atraindo minha atenção novamente em um reflexo involuntário. Trouxe a mão "limpa" até o meu rosto e secou a lágrima. Tinha uma expressão de incompreensão absoluta do que ou porque eu sentia, mas que tinha pena de mim e de ter causado essa dor.
Ela levou o polegar úmido em direção aos lábios e lambeu-o, colocando-o na boca. Um sorriso pequeno, malicioso e terrível brotou em seu rosto, e ela lambeu o sangue da mão. O olhar dela, sempre fixo em mim, brilhou com aquela malícia desejosa. Vacilei, e o repentino desequilíbrio permitiu às minhas pernas alguns passos para trás, até esbarrar, rígido, em uma parede. O único pensamento que fui capaz de formular era a indagação de porque, em uma avenida importante como aquela, simplesmente não passava ao menos um carro.
Como que lendo minha mente, ela gargalhou. Vi os caninos alongados, e soltei um riso curto, irônico, histérico e incrédulo de que aquilo era real. Ouvindo o ruído seco e gutural, ela me olhou séria e disse palavras que só compreendi quando acordei... Estivera desmaiando desde o vacilar das minhas pernas.
Quando a névoa começou a se dissipar, estava imerso em uma escuridão úmida por um longo e indeterminado tempo. Acordei de um susto, sem ar. Ainda estava confuso, a mente embaralhada. Bati forte com a cabeça em um teto muito próximo de mim. Mal abri os braços e já encostava nas paredes. Preso em uma caixa, esmurrei com força até o tampo se partir. Terra solta cobriu-me, e eu escavei com força e desespero meu caminho.
Um terrível alívio me tomou quando senti uma brisa gélida nas mãos. Forcei meu corpo para cima, emergindo da terra úmida. Em um grito de paixão virado para a lua, suguei o ar com força e uma dor excruciante rompeu meus pulmões, queimando-os como fogo.
A dor aliviou a névoa que me envolvia a mente. Vi no brilho de Vênus os olhos daquela coisa e pude ouvir novamente aquela voz embevecida de sangue: "O descanso eterno de tua fêmea eu concedi, mas o teu, por prazer, eu roubei".

2 comentários:

  1. O.O
    Meu Deus Erik, não tenho nem palavras pra essa história, me arrepiei, me emocionei, me angustiei, me envolvi!
    Entrei completamente na história, senti o medo e a solidão dele!
    Meu amigo, está de parabéns, publica um livro e serei sua fã numero 1 e também a primeira a compra-lo!
    Obrigada por essa historia emocionante!
    Continue assim e você irá longe! ^^'
    Te adoro, Beijoos! :*

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  2. O que mais poderia esperar do homem que escolhi para ser meu esposo, além da perfeição e do envolvimento de sua escrita.

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