O quarto estava escurecido, banhado apenas por uma
bruxuleante luz azulada. Também estava repleto de um agradável
cheiro de morango, vindo dela. Meu coração batia acelerado, mas eu
continuava em pé, no meio do caminho entre a cama e o banheiro. Da
porta, ela me olhava.
Eu não sabia bem o que estava fazendo ali. Me deixei
levar. Havíamos conversado. Ela havia me beijado de repente. Tinha
me convidado para uma cerveja, e eu, fraco, no primeiro copo já
estava meio tonto. Entrei em seu carro, e enquanto rodávamos, a mão
direita dela só deixava minha coxa esquerda para trocar a marcha. O
vento batia em meu rosto pela janela aberta, enquanto ela acelerava
mais. Eu fechei os olhos, entre um bem e um mal estar, quando ela me
“acordou”: sua mão descera para a parte interna da coxa, e
subira até a minha virilha. Instintivamente, fechei as penas. Ela
sorriu com um barulhinho alto na garganta, e pressionou os dedos
contra mim. Me traí, e num olhar rápido para meu rosto que
avermelhava, seu sorriso aumentou.
Permanecia vestido, inseguro, estático onde ela havia
me deixado quando entrou no banheiro. Agora ela me olhava da porta, a
luz deixando seu rosto mais bonito, seu olhar mais voraz e seu
sorriso mais malicioso. Ela havia pego uma caixinha em cima do
frigobar, mas não vi do que se tratava. À minha frente, vestindo
apenas uma calcinha, pelo cheiro de morango, eu desconfiei do que se
tratava a caixa.
Ela caminhou na minha direção, um passo lentamente
após o outro, um pé exatamente a frente do outro. A luz brincava
com as sombras em sua face, provocadas pelo cabelo solto que
emolduravam seu rosto. Me envolvendo pela cintura, ela me olhou nos
olhos, o sorriso desaparecendo.
- Tu não quer?
Eu respondi com um beijo, mas meus braços permaneceram
estáticos. Me beijando, ela puxou meus braços para seu corpo. Por
cima de seu braço, coloquei a mão na parte baixa de suas costas e
pressionei seu corpo contra o meu. Com a outra mão, toquei seu
rosto, pressionei sua nuca. Podia sentir sua pele quente mesmo por
cima da roupa.
O beijo parecia nunca mais terminar. Ela tocou meu
abdômen indefinido. Arranhou minhas costas. Nossas bocas se
separaram por milésimos de segundo enquanto tirava a minha camiseta.
Acho que senti seus mamilos antes de sentir o calor de seus seios.
Ela arrancou meu sinto, enquanto eu puxava seus cabelos da nuca,
fazia sua cabeça pender para trás, e eu beijava seu pescoço e a
base de suas orelhas.
Logo meu mundo era a sombra de seus cabelos, a luz
revelando vez ou outra seu sorriso, e o peso de seu corpo sobre o
meu. No começo, minhas mãos foram recolocadas por ela em seu corpo.
Por motivo ou outro, demorou para eu me sentir tranquilo para tocá-la
a vontade. Por outro lado, as mãos dela corriam pelo meu, quando não
pressionavam meu peito para apoiar-se com as costas quase eretas.
Chegou a me arranhar com as unhas vez ou outra, mas
tinha uma predileção por me morder. Seus dentes afundavam e
arranhavam minha pele, por toda a extensão do pescoço aos ombros.
Uma de suas dentadas, no braço esquerdo, foi forte o suficiente para
que eu soltasse um grito involuntário.
- Doeu?
- Sim – respondi entre os dentes
- Tu mereceu.
Seu sorriso, naquela luz, foi terrível. Deveria ser
daquele jeito que se sentiam os parceiros das viúvas-negras. Meu
corpo retesou involuntariamente, e ela fez de novo aquele risinho na
garganta: eu havia retesado todos meus músculos. Ela também retesou
os dela, e mordeu a minha orelha de leve.
- Calma – disse, antes de me morder, e meu corpo
instintivamente relaxou – Mas não tanto – e riu, apertando
novamente “aqueles” músculos.
Ela controlava totalmente a situação, mas por algum
motivo eu começa a me sentir mais tranquilo nas mãos dela... ou em
seus dentes. Foi quando ela jogou seu corpo para trás, as mãos
pressionando meu peito até o ar fugir de meus pulmões, as unhas
rasgando a minha pele. Seu cabelo voou com o movimento para longe de
seu rosto, mas só pude ver sua expressão pelo espelho no teto.
Só pude ver sua expressão por um único instante, até
minha visão desaparecer. Era o peso, o cheiro, a pele. O corpo por
onde minha boca tinha viajado, que parecia parte comum ao meu.
Deitada em cima de mim, agora finalmente no escuro, eu a
sentia sorrir, com seu rosto em meu peito. Ela suspirou duas
palavras: “Feliz, feliz”. E eu, ali, sorrindo, todo mordido.
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