Você
me bagunça e tumultua tudo em mim. Me faz sorrir de longe, e prende
meu pensamento em ti quando perto. Me estremece, me sacode, me abre
os olhos. Me julga, pune, arde, morde, cospe com um olhar terno, ou
com aquele olhar distante, virado pro lado, perdido entre prédios.
Me
aproxima e me afasta, me rechaça sem me deixar te soltar. Me abraça,
me sorri boba, me xinga, reclama, desmancha todo meu raciocínio. Me
faz entender sobre mim, me facilita, me complica, me assusta. Enforca
meu serviço, me rouba o ar; me mata pelo que eu disse, mesmo quando
te faz sorrir.
Me
morde a boca, me arranha o pescoço, me arranca os cabelos, e é como
se nada tivesse acontecido. Me magoa e adula, e tudo que posso é
sorrir. Bobo, tranquilo, calmo como nunca. Decidido, convicto,
compacto. Ainda assim, de perto, minha perna treme, minha mão fica
indecisa de onde ir, minha voz falha. Me sinto mais adulto com a
situação, um adolescente qualquer quando abraçados, uma criança
imatura que acha que é grande sob teu olhar.
É
estranho, estúpido, incomum. Tão agradável tudo. São dois polos,
duas situações, quase dois ímãs de mesma polaridade que se
repelem, mas ainda assim eu aprendi, eu consegui. Concilio tranquilo,
como se fosse a coisa mais natural do mundo, e agora acabei de falar
como se não fosse. O é. É natural demais, tudo, cada palavra, cada
gesto, cada impacto quer tu provoca em mim.
De
todas as besteiras que eu falo, tu escuta, sorri, responde. Parece
não me ignorar em momento algum. A memória falha, eu falo, tu fala.
É como se não houvesse fim nos assuntos, como se fosse um assunto
sem fim. Simplesmente a gente conversa e conversa e conversa e
conversa. Ri, brinca um com o outro, tu me olha feio e me dá vontade
de rir. Se finge de ofendida, se faz de rogada, se preocupa comigo e
não admite uma única palavra dita pelos movimentos das tuas mãos
ou pelo olhar que me lança.
A
amizade de que eu precisava e nem sabia. O tempo, o espaço, a
liberdade de não ser mal interpretado. Minhas piadinhas sem graça,
ou as maliciosas, minhas frases sem nexo, todas sempre tão
recebidas, incluso pelo teu olhar de desaprovação. Todas
completando um panorama a parte de todo o cinza desta cidade fedida.
É
um me compreender sem esforço, um nos ter sem nos prender, uma
distância segura num abraço apertado; um beijo quente no rosto ou
de carinho na boca, e vice-versa; um selinho escondido no escuro da
escada; uma fruta incompatível; e a tua cabeça descansando em meu
peito, mesmo que não tenhamos feito absolutamente nada.
Uma
guia, uma bússola, o fim de uma certeza, o começo de uma jornada.
Uma amizade, pura, única, contundente amizade. Bela, simples e
complicada, sincera em olhos profundos de alma e tormentos tristes e
alegres. A incerteza da falta de álcool no sangue, a certeza da cara
à tapa, a dúvida de um futuro incerto e inconformável; e as nuvens
de chuva se dissipando, escapando por entre os dedos, deixando o sol
rasgar o céu e te suar a testa e te queimar a pele.
Numa
busca implacável, um apoio inesperado. Uma tranquilidade
transcendente, um sorriso fácil, nossas histórias se descortinando
simples. Dois marcos, duas águas, dois sorvetes, e aquele calor
infernal. Teus olhos fechados sem esforço, teu queixo levemente
levantado, teu pescoço exposto, tuas mãos contra meu rosto,
fechadas contra meus cabelos. Tuas unhas acarinhando meu pescoço, e
as minhas nas tuas costas, de levinho, de mansinho. Tua mão no meu
rosto, num pedido de que eu pare, enquanto tu mesma não para.
Metido,
intrometido, irritante, teu olhar de desaprovação, mas um abraço e
teu sorriso retorna. Autoritária, exigente, fazida, me desaprova, me
prova, me tenta. Me entende, me surpreende, não faz nada e mesmo
assim me faz um bem. Presença marcante, constante, confiante, quase
arrogante, e tão querida, afável, próxima. E o silêncio no teu
abraço não incomoda, não constrange, não afasta, não é uma
barreira para a próxima palavra, próxima enxurrada de letras
proferidas, próxima conversa interminável.
E
só espero a permanência, nossa amizade, nossos risos. Que o tempo
não nos afaste, não pressione, não importune. Teu sorriso aos meus
olhos, teu olhar sincero, tua facilidade complicada e descomplicada.
Egoísmo meu. Que se faça a luz da minha parte, para fazer valer a
pena tudo isso.
Me emocionei. Sério, me emocionei mesmo. Esse tipo de texto não era de seu perfil até algum tempo atrás, mas percebo que tem o dom para isso. Parabéns pelo trabalho e continue sempre assim.
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