Ela me olhou e sorriu. Diminuiu a distância entre nós
com dois passos... e me abraçou.
Por um momento não tive qualquer reação, qualquer
pensamento; minha mente se perdeu no susto e meu sorriso amoleceu,
inconsistente perante o contato, desnecessário devido a proximidade.
Vi o rosto dela sumindo pela direita do meu, afundando em meu ombro
esquerdo: poderia jurar, hoje, que sentia a respiração dela contra
o meu pescoço, tentando roubar qualquer aroma meu agradável à seu
olfato... mas era eu que tentava aspirá-la para dentro de meus
pulmões o mais inaudível e insensível possível a ela.
O coração pulsava cada vez mais forte, desde de parara
quando a vi, de repente, trocando aquele “primeiro” olhar, aquele
“primeiro” sorriso, e eu me esforçava para que ela não o
sentisse. O susto se fora tão rápido quanto viera através de um
ato tão corriqueiro, mas meus braços se mantiveram imóveis ao lado
do meu corpo. Tudo que eu queria era envolver sua cintura, mas não
me mexi...
Sentia seu rosto contra meu ombro e seus braços me
puxando mais e mais para junto dela por vontade própria. Meus olhos
quiseram se encher de lágrimas e um nó se formou em minha garganta.
Poderia jurar que ela me apertou mais forte contra seu corpo quando
meu rosto afundou em seus cabelos, e foi essa sensação – talvez
mentirosa, que talvez eu tenha criado porque esperava, porque queria
que fosse isso que tivesse acontecido – que fez meus braços se
erguerem para envolvê-la.
“Seu puto”, ela
disse, quando nos afastamos e nos olhamos, para depois nos abraçarmos
novamente. Poderia jurar que ela segurava o choro, mas talvez fosse
mais um engano, talvez apenas eu sentisse vontade de chorar. Ou
talvez, só talvez, minha mente estivesse tão sóbria, tão séria e
sem qualquer imaginação... talvez, só talvez, não fosse só a
minha, mas a nossa
verdade.
O abraço pareceu durar a eternidade, e tudo que eu
queria era que não acabasse. Meus lábios adormeceram, esperando
pela pele dela... ... Nunca pensei que um abraço pudesse ser tão
bom, tão aconchegante; que através de um abraço fosse possível
sentir-se finalmente em casa; que o mundo finalmente fizesse sentido.
Nunca pensei que ela me abraçaria com vontade, numa vã tentativa de
afogar uma saudade que não deveria existir.
Então nos afastamos. O sorriso voltou aos nossos
rostos: o dela, lindo, o meu, incerto e educado. Queria puxá-la de
volta, morrer naquele abraço para nunca mais sentir seu corpo
descolando do meu, para nunca mais sentir o ar frio tocando meu
peito, meu abdômen, o lado de dentro dos meus braços. Queria beijar
seu rosto todo: as maçãs do rosto, o nariz, a testa, os lábios.
Queria que o tempo parasse naquele instante, que eu pudesse abraçá-la
de novo e tudo ficássemos assim para sempre. Queria qualquer
eternidade, qualquer porção de verdade que me permitisse ter
certeza de que ela sentia o mesmo que eu.
Ela recuou os dois passos, ampliou um sorriso – que
talvez tenha tremido, vacilado – e saiu pela porta. Quis esticar o
braço, chamá-la, puxá-la de volta. Fiquei quieto, vendo-a se
afastar, antes de ter forças para impulsionar um corpo com o peito
vazio para frente e vê-la levar um coração sem ter ideia de que o
tinha consigo.
Muito bonito e bem escrito...
ResponderExcluirPena que sempre aparece um palavrão, por mais corriqueiro que este seja.
É um pouco angustiante perceber que sempre parece algo tão triste e vazio...
Legal...vc tbm poderia escrever sobre a era medieval??
ResponderExcluir