Conforme corria, o mundo ao redor de Jonathan se
deteriorava. Uma luz vinda de lugar algum parecia apodrecer todas as
cores, tornando-as todas tons de marrom. As paredes e o teto
desfaziam-se, as tintas lascando e soltando, o cimento
esfarelando-se. O piso trincava, quebrava, desfazia-se aos pés de
Johnny.
E no exato instante em que iria entrar no corredor que o
levaria à escada, surge um imenso exaustor que o impede de
continuar. Olhando por entre as hélices, Jonathan foi capaz de ver
uma paisagem desoladora se formando: toda a escuridão para além
daquela parede só era quebrada pela grade que se perdia para longe
do alcance de sua visão.
O rapaz olhou para a continuação do corredor: a luz
acabava um pouco mais à frente, como se sumisse por uma entrada à
direita. Daquela distância, Johnny nunca poderia ter certeza do que
realmente fazia a luz alterar-se como se dobrasse uma esquina. Olhou
para onde tinha vindo: a escuridão parecia nascer logo após uma
distância de dois passos, como uma massa densa, uma cortina pesada,
uma parede.
Talvez os remédios ainda fizessem efeitos, ou Jonathan
simplesmente não fosse muito espero. De qualquer forma, ele optou
por correr de volta. Em sua cabeça, se refizesse o caminho por onde
veio, o mundo iria retornar ao estado anterior; assim, ele poderia
pegar outro caminho para a escadaria, sem que ocorresse aquela troca.
Johnny correu com toda a força e atravessou o véu da
escuridão. Lá dentro, era como se não houvesse mais nada. Não
havia barulho, ou sensação térmica. Ele mexia as pernas, mas não
sentia o movimento; nem mesmo sentia as pernas... ou os braços, ou
qualquer outra coisa. Não sentia o ar que respirava, ou mesmo havia
qualquer necessidade de respirar. Na verdade, era como se o rapaz já
não existisse, e tudo que havia, tudo que sentia, todo o universo
fosse resumido à sensação de morte. Não qualquer morte, mas a
própria morte: a certeza da inexistência eterna. A certeza de que
nada se viveu em nenhum momento da vida, que a própria vida era
curta e sem qualquer sentido ou motivo, e aquele era o último
lampejo de consciência antes da total nulidade decorrendo da morte.
Então, quando veio a certeza de que aquela era a última
certeza, tudo se rompeu em luz. Em uma reação ao susto, Jonathan
tentou abrir os olhos, mas a luminosidade o obrigou a piscar várias
vezes. Quando acostumou-se à claridade, tudo que viu foi o maldito
exaustor. Pela visão periférica, percebeu que a escuridão em que
havia entrado parecia, agora mais longe.
- Que
porra . . . - Johnny suspirou. Estava confuso: impossível ter
certeza se aquilo, aquela nulidade, aconteceu mesmo ou não.
Foi quando um rastejar começou. Um som de raspar
estranho, parecia úmido ao mesmo tempo que parecia seco. Jonathan
olhou para a escuridão. Era aquela massa de nada que produzia aquele
som, e o produzia ao se arrastar para frente. O escuro era palpável
e se aproximava de vagarosa e constantemente.
Não havia outra opção! Johnny virou-se e correu para
onde a luz fazia a curva. Conforme aproximou-se, percebeu que era uma
esquina em ângulo acentuado à direita. Entretanto, quando estava
muito próximo, percebeu que o ângulo foi se suavizando até
tornar-se uma curva arredondada. Logo parecia apenas uma leve caída
para a direita, e então, era apenas um corredor reto.
O tempo todo Jonathan correu olhando para trás:
precisava saber se a escuridão estava muito próxima e se o caminho
que percorrera fizera alguma curva. A massa escura estava cada vez
mais distante, mas continuava se avançando. Entretanto, o corredor
sempre se demonstrou perfeitamente reto.
O caminho à sua frente começou a curvar-se para a
esquerda. Primeiro suavemente, evoluindo por uma curva ampla, até
chegar em uma esquina bem angulada. Então começou a fazer o caminho
reverso até ficar alinhado. Foi quando começou a dobrar à direita.
Toda vez que o corredor pendia para a esquerda, a
escuridão avançava mais rápido, e Johnny precisava se esforçar
muito para não ser atingido. Quando o corredor pendia à direita, a
escuridão perdia força, e Johnny conseguia abrir alguma distância.
Por vezes incontáveis o corredor dançou em sua frente, com a massa
escura se aproximando cada vez mais. Jonathan perdia as poucas forças
que ainda tinha, e o escuro já lambia seus calcanhares, quando, à
sua frente, surgiu, como que do nada, uma menininha sentada.
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