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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Esquizofrenia - Capítulo 2 - Parte 5


Conforme corria, o mundo ao redor de Jonathan se deteriorava. Uma luz vinda de lugar algum parecia apodrecer todas as cores, tornando-as todas tons de marrom. As paredes e o teto desfaziam-se, as tintas lascando e soltando, o cimento esfarelando-se. O piso trincava, quebrava, desfazia-se aos pés de Johnny.
E no exato instante em que iria entrar no corredor que o levaria à escada, surge um imenso exaustor que o impede de continuar. Olhando por entre as hélices, Jonathan foi capaz de ver uma paisagem desoladora se formando: toda a escuridão para além daquela parede só era quebrada pela grade que se perdia para longe do alcance de sua visão.
O rapaz olhou para a continuação do corredor: a luz acabava um pouco mais à frente, como se sumisse por uma entrada à direita. Daquela distância, Johnny nunca poderia ter certeza do que realmente fazia a luz alterar-se como se dobrasse uma esquina. Olhou para onde tinha vindo: a escuridão parecia nascer logo após uma distância de dois passos, como uma massa densa, uma cortina pesada, uma parede.
Talvez os remédios ainda fizessem efeitos, ou Jonathan simplesmente não fosse muito espero. De qualquer forma, ele optou por correr de volta. Em sua cabeça, se refizesse o caminho por onde veio, o mundo iria retornar ao estado anterior; assim, ele poderia pegar outro caminho para a escadaria, sem que ocorresse aquela troca.
Johnny correu com toda a força e atravessou o véu da escuridão. Lá dentro, era como se não houvesse mais nada. Não havia barulho, ou sensação térmica. Ele mexia as pernas, mas não sentia o movimento; nem mesmo sentia as pernas... ou os braços, ou qualquer outra coisa. Não sentia o ar que respirava, ou mesmo havia qualquer necessidade de respirar. Na verdade, era como se o rapaz já não existisse, e tudo que havia, tudo que sentia, todo o universo fosse resumido à sensação de morte. Não qualquer morte, mas a própria morte: a certeza da inexistência eterna. A certeza de que nada se viveu em nenhum momento da vida, que a própria vida era curta e sem qualquer sentido ou motivo, e aquele era o último lampejo de consciência antes da total nulidade decorrendo da morte.
Então, quando veio a certeza de que aquela era a última certeza, tudo se rompeu em luz. Em uma reação ao susto, Jonathan tentou abrir os olhos, mas a luminosidade o obrigou a piscar várias vezes. Quando acostumou-se à claridade, tudo que viu foi o maldito exaustor. Pela visão periférica, percebeu que a escuridão em que havia entrado parecia, agora mais longe.
- Que porra . . . - Johnny suspirou. Estava confuso: impossível ter certeza se aquilo, aquela nulidade, aconteceu mesmo ou não.
Foi quando um rastejar começou. Um som de raspar estranho, parecia úmido ao mesmo tempo que parecia seco. Jonathan olhou para a escuridão. Era aquela massa de nada que produzia aquele som, e o produzia ao se arrastar para frente. O escuro era palpável e se aproximava de vagarosa e constantemente.
Não havia outra opção! Johnny virou-se e correu para onde a luz fazia a curva. Conforme aproximou-se, percebeu que era uma esquina em ângulo acentuado à direita. Entretanto, quando estava muito próximo, percebeu que o ângulo foi se suavizando até tornar-se uma curva arredondada. Logo parecia apenas uma leve caída para a direita, e então, era apenas um corredor reto.
O tempo todo Jonathan correu olhando para trás: precisava saber se a escuridão estava muito próxima e se o caminho que percorrera fizera alguma curva. A massa escura estava cada vez mais distante, mas continuava se avançando. Entretanto, o corredor sempre se demonstrou perfeitamente reto.
O caminho à sua frente começou a curvar-se para a esquerda. Primeiro suavemente, evoluindo por uma curva ampla, até chegar em uma esquina bem angulada. Então começou a fazer o caminho reverso até ficar alinhado. Foi quando começou a dobrar à direita.
Toda vez que o corredor pendia para a esquerda, a escuridão avançava mais rápido, e Johnny precisava se esforçar muito para não ser atingido. Quando o corredor pendia à direita, a escuridão perdia força, e Johnny conseguia abrir alguma distância. Por vezes incontáveis o corredor dançou em sua frente, com a massa escura se aproximando cada vez mais. Jonathan perdia as poucas forças que ainda tinha, e o escuro já lambia seus calcanhares, quando, à sua frente, surgiu, como que do nada, uma menininha sentada.

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