Rômulo acordou sobressaltado. Os olhos abrindo de repente, forçando o cérebro a religar todas as áreas inertes durante o sono. O que, certamente, funcionou muito bem: o segurança nunca acordara com lembranças tão frescas do que sonhara; e aparentemente acordara de um sonho dentro de outro, para só então realmente acordar.
Ele odiava qualquer sonho que não fosse total e completamente comum e possível de realmente acontecer. Sonhos em que dirigia em alta velocidade em um grande conversível vermelho, em que comia um pequeno peru natalino inteiro... em que tinha “boas relações” com uma certa enfermeira.
De qualquer forma, não demorou muito para reconectar-se com o mundo real à sua volta. Estava sozinho na sala da segurança, na recepção principal, na entrada do hospital. Olhou para o relógio e estranhou a situação toda; ele deveria estar acompanhando Lisa e um outro enfermeiro nos atendimentos à pacientes mais agressivos. Aparentemente, seu colega – baixo e magro, mais um “cuidador de câmeras” do que alguém capaz de deter alguém – fora levado em seu lugar, o que era fora das regras: apenas Rômulo era autorizado a fazer aqueles acompanhamentos.
E tudo isso era realmente muito estranho, já que ele sonhara que estava fazendo aquelas visitas... E, nossa!, como seu pescoço doía.
Estava escuro, e a única luz entrava pela janela pequena da sala, que dava para o jardim interno. Aparentemente chovia lá fora. O segurança levou a mão à nuca e torceu o pescoço para os lados; tinha dormido de mal jeito naquela cadeira desconfortável até mesmo para sentar, e... Seus olhos arregalaram-se ao caírem no cronograma. Hoje era o dia! Ele deveria ter posto em prática o plano do qual o senhor Freeman o tinha encarregado. Oh, Pai, ele havia sonhado até mesmo com a cobrança do velho!
Olhou novamente para o relógio. Se corresse – como se fugindo do próprio diabo – até o subsolo, talvez alcançasse Lisa à tempo. Talvez ela tivesse, como fizera uma única vez, começado pelo último paciente da rota, deixando Jonathan para o final.
Levantou-se, mas o pescoço latejou tão forte que a visão escureceu e o equilíbrio quase fugiu por completo. Tentou colocar as vértebras no lugar, a cabeça pesando para os lados. Avançou vacilante, tateando o ar em busca da maçaneta.
Os olhos clarearam com as pupilas dilatadas. A pouca luz que entrava pela janela caia pesadamente contra a parede junto à porta. Ao lado do umbral fechado, havia um mural de avisos. No mural, algo que o cérebro de Rômulo tentou – com todas as forças, mas sem sucesso – negar, enquanto um terror lhe subia frio pela espinha.
No mural, um alfinete, circundado por uma mancha – marrom, àquela luz acinzentada – de digital, prendia um desenho infantil.
Era um desenho bobo, de traçado inocente, mas não capaz de mascarar o demônio retratado, o horror presente em cada reta e cada curva. O monstro era realista demais naquela imagem, e mesmo sendo impossível que fosse real, algo no coração de Rômulo acreditara nele de um jeito aterrador que realmente o impulsionara porta a fora.
Me diz uma coisa: você criou o personagem "sr. Freeman" pensando no Morgan Freeman, né?! Quando eu li já pensei no rosto dele.. asshauhusahusa
ResponderExcluirParabéns! Aguardo continuação!