Há certas perguntas que não se precisa
pensar para responder...
As pessoas me perguntam se eu sou feliz.
Prontamente respondo: não. Então me perguntam sobre meus sonhos, ou se tenho
esperança no futuro. Novamente: não. Imagina que sem sal um poeta feliz e
esperançoso? O que mais ele conseguiria escrever além de idolatrias a um mar de
rosas?
De qualquer forma, eu não gosto muito de
coisas que me são impostas... E felicidade e esperança são imposições. Na
melhor das hipóteses, imposições sociais. Na pior, autoimposições.
Vivemos numa sociedade ditatorial.
Dentre tantos insuportáveis padrões dos quais não podemos fugir, nos deparamos,
de maneira ou outra – e sem qualquer chance de escapatória –, com a ditadura da
felicidade e com a ditadura do sucesso. Precisamos ser felizes, estar sempre de
bem com a vida, mesmo nos piores momentos. Precisamos ter esperança, sonhar,
ansiar e lutar pelo que nos faz e nos fará feliz e/ou por um futuro dourado,
mesmo nos piores momentos.
A ironia começa aí: nos piores momentos.
Quem é capaz de manter-se feliz ou esperançoso enquanto apanha? Que criatura
viva não gritaria, choraria e reclamaria? Afinal, a vida bate. E bate com
força. Bate até cairmos. E nós caímos, invariavelmente. Impossível quem nunca
caiu.
Assim começa o triste fim da felicidade
e da esperança: quando nos deparamos com um muro insuperável nos separando de
algum sonho – e nós vamos sim(!) deparar-nos com barreiras intransponíveis
frente à alguns desejos –, e não há nada que possamos fazer além de desistir...
E não me venha com essa de “quem quer dá um jeito”, “querer é poder”, ou
qualquer coisa assim: todo mundo já teve de abrir mão de determinado sonho e/ou
desejo, sem chance de realizá-lo em qualquer outro momento da vida.
Nos frustramos, nos sentimos derrotados.
E o que dói mais é a sensação de impotência e incapacidade totais. É como se
não fôssemos capazes de realizar nada na vida. Cobramo-nos de tudo e mais um
pouco. Ditadura do sucesso autoimposta...
Para piorar, geralmente há alguém que
sabe sobre esse nosso sonho. E ter de confessar que falhamos é simplesmente
asqueroso. Nos sentimos humilhados frente à amigos, à familiares... frente ao
mundo. Uma placa de “inútil” paira em nossa frente, criando um estigma que
nunca mais nos irá abandonar. E as pessoas perguntando, e cobrando, e
incentivando... é a ditadura do sucesso socialmente imposta.
Lá vem a cobrança, sempre a cobrança, se
dos outros ou nossa própria. Já estamos sem esperança, afinal, investimos
valores (não apenas financeiros, mas pessoais, emocionais, físicos etc.), e as
pessoas nos vem com palavras “doces” e frases para consoladoras para que não
fiquemos tristes. Ditadura da felicidade, então. Nós querendo apenas um abraço,
mas as pessoas querem nos ver sorrindo.
“Ah! Mas elas querem nos ver bem!”.
Não... Nem sempre. Se temos um machucado, precisamos de cuidados e não que nos
obriguem a ignorar a dor. As pessoas querem que caminhemos com o fêmur
fraturado para não precisarem nos ajudar. Elas nos impõe a felicidade para que
não precisem auxiliar-nos, nunca, na fraqueza e na tristeza...
Desta forma, de que adianta vivermos sob
uma pressão tão grande? Que esperança e que felicidade nos traz a obrigação de
sermos, sempre, felizes e esperançosos, se não podemos, nunca, sentirmos tudo
que vivemos e sermos pessoas reais?