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Eu estava bêbada. Aquilo não era qualquer novidade,
mas havia alguma coisa errada. O que eu estava prestes a fazer
poderia facilmente ser considerado incesto. Fora tudo tão de
repente, inesperado: no começo da noite, eu o via como o mesmo
gurizinho com a qual fui criada; mas cada copo, cada dose pareceu
abrir portas dentro de mim.
Dentro de casa, eu o abracei na primeira oportunidade
que tive. Aproveitei sua surpresa e lhe beijei. Diferente do que
esperava, ele me envolveu em seus braços e retribuiu o beijo de uma
forma muito ávida. Joguei-o no sofá. Não sei onde estava com a
cabeça: ali, no meio da sala, qualquer um que saísse de seu quarto
nos veria. E se alguém nos visse, ia dar merda.
Mas me joguei em cima dele e o beijei de novo. Minha mão
foi contra seu rosto, enquanto as suas me pegavam pela cintura e me
puxavam para mais perto. Não esperava que ele tivesse tanto jeito...
tanta “pegada”. Escorreguei minha mão para sua nuca e firmei sua
cabeça, seu rosto contra o meu, sua boca na minha. Com a outra,
busquei seu tórax. Deslizei a mão por sua cintura até sua bacia,
por baixo da camiseta e...
Ele me fez escorregar para o lado, num movimento
involuntário. Seu olhar era de susto. Eu tentei me aproximar,
tocá-lo, acalmá-lo, mas ele recuou o rosto e sacudiu a cabeça em
negativa. Baixei a mão e olhei em seus olhos. Sussurrei alguma coisa
que nem eu entendi, mas serviu para que ele relaxasse. Então pude
tocar seu rosto.
Ele quis baixar a cabeça e eu o impedi com um beijo. Ao
qual ele retribuiu, primeiro meio inseguro, mas logo com a mesma
vontade de antes. Foi esticando seu corpo para trás, puxando-me para
cima dele. Suas mãos corriam o meu corpo, mas sempre por cima das
roupas.
Eu já não estava mais aguentando aquilo. O contato só
da pele das nossas mãos, pescoço e rosto já não era mais o
suficiente. Eu queria mais pele... Okay, eu queria uma coisa bem mais
específica. Eu tentei novamente colocar a mão por baixo de sua
camiseta.
A reação foi mais leve, mas ainda não a que eu
queria. Ele parou de me beijar, afastou a cabeça e a balançou em
negativo. “Porque?”, perguntei com uma expressão triste. “Tenho
medo”, sussurrou. “Do que?”, “Vergonha de mim”, “Não
precisa”, “Sou horrível”, “Não pra mim”.
Eu lhe selei os lábios e levantei. Ele sentou. Estava
me olhando fixamente, esperando para minha próxima ação. Eu não
sabia exatamente porque havia levantado, mas agora que estava em pé,
só conseguia pensar em uma coisa.
Sem tentar ser sensual, simplesmente tirei a blusa. Ele
não conteve um sorriso. Aquele sorriso disfarçado dele, meio de
canto, fingindo que não aconteceu nada e que ele nem quer rir.
Aquele sorriso que sempre me provocou arrepios. Não resisti e me
aproximei, colocando as mãos em sua nuca. Ele pôs o rosto contra
meu ventre e começou a beijá-lo.
Minhas pernas amoleceram e eu tive que me esforçar para
me manter em pé. Suas mãos subiram pelo meu plexo solar, tocando
meu peito, mas não meus seios. Pressionou os dedos contra minhas
costas, me deixando louca de vontade de ser arranhada, enquanto
beijava acima da barra da calça e abaixo do sutiã. Por algum motivo
ele respeitava o espaço coberto pelas roupas.
Aquilo nele estava me irritando, mas pela primeira vez
na vida a irritação estava me dando mais prazer. De alguma forma,
aquela situação toda parecia um grande jogo... afinal, esperamos
tanto tempo para ficarmos juntos que aquela ansiedade não era de
toda ruim.
Eu abri minha calça. Ele sabia exatamente o que eu
queria, mas ainda sim respeitava o limite das minhas roupas.
- Tu
não quer?
- Quero...
só que... - e ficou em silêncio, o rosto na altura do meu
estômago. Rezei para que nada dentro de mim fizesse aqueles
barulhos estranhos.
- O
que? - mas eu já tinha entendido. A bebida não permitiu que eu me
desse conta tão cedo, mas agora as coisas fazem sentido.
Ele respondeu com silêncio.
- Não
me importo de tu ser gordinho, de não ter os músculos definidos,
de não ter o corpo considerado gostoso. Nem se tu não tem tanta
experiência quanto eu. É tu que me interessa, do jeito que tu é.
É tu que eu quero - ele me olhava nos olhos, agora. Ele sabia que
eu falava a verdade.
Terminei de falar e levantei a camiseta dele. Não
esperei reação e a tirei de vez. Ele continuou me olhando, apenas,
mas agora com cara de criança. Eu ri alto e o beijei. “Não sabe o
quanto tempo eu esperei por um beijo teu”, sussurrei dentro da boca
dele. Ele sorriu sem parar de me beijar. Sua risada abafada pareceu
ecoar dentro da minha boca, me dando mais vontade ainda de beijá-lo.
- Precisamos
ir prum quarto – disse, enquanto ele beijava meu busto a abria meu
sutiã.
Sem tirar o rosto de mim, com uma mão ele catou minha
blusa e a camiseta dele do chão. Então arrastou o rosto para meu
pescoço, levantando, e me abraçou forte pela cintura. “Guia que
não tou vendo nada”, disse beijando meu pescoço. Eu ri só pra
ele, e ouvi a retribuição. Comecei a andar, com ele avançando de
costas, abraçado na minha cintura e beijando meu ombro, meu pescoço
e minha orelha.
- Olha
o degrau – eu disse, mas ele tropeçou mesmo assim. Levantou
rápido e continuamos até o quarto em que eu tava, controlando o
riso para não acordarmos ninguém. Entramos no quarto, ainda
abraçados e nos beijando, mesmo rindo. A porta quase bateu, e por
sorte eu consegui impedi-la, enquanto ele se jogava na cama.
Não havia mais traço de timidez nenhuma nele. Ele ria
em silêncio, o braço por cima dos olhos, numa posição
confortável. Parecia tão inocente, ali, com o corpo a mostra, sem
mais se importar. Aquilo me provocou um grande desejo, mas eu
caminhei lentamente em sua direção.
Minhas mãos pousaram em seu peito. Se havia algum riso,
morreu ali. Arranhando-o de leve, desci até sua calça. Abri apenas
o botão, quando ele sentou e me puxou para contra ele, me beijando.
Agora que corríamos menos risco, e que ele esteja finalmente solto,
a noite poderia durar quanto tempo precisasse durar.