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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Fuga e Entrega

Conto em voz feminina.

*

Eu estava bêbada. Aquilo não era qualquer novidade, mas havia alguma coisa errada. O que eu estava prestes a fazer poderia facilmente ser considerado incesto. Fora tudo tão de repente, inesperado: no começo da noite, eu o via como o mesmo gurizinho com a qual fui criada; mas cada copo, cada dose pareceu abrir portas dentro de mim.
Dentro de casa, eu o abracei na primeira oportunidade que tive. Aproveitei sua surpresa e lhe beijei. Diferente do que esperava, ele me envolveu em seus braços e retribuiu o beijo de uma forma muito ávida. Joguei-o no sofá. Não sei onde estava com a cabeça: ali, no meio da sala, qualquer um que saísse de seu quarto nos veria. E se alguém nos visse, ia dar merda.
Mas me joguei em cima dele e o beijei de novo. Minha mão foi contra seu rosto, enquanto as suas me pegavam pela cintura e me puxavam para mais perto. Não esperava que ele tivesse tanto jeito... tanta “pegada”. Escorreguei minha mão para sua nuca e firmei sua cabeça, seu rosto contra o meu, sua boca na minha. Com a outra, busquei seu tórax. Deslizei a mão por sua cintura até sua bacia, por baixo da camiseta e...
Ele me fez escorregar para o lado, num movimento involuntário. Seu olhar era de susto. Eu tentei me aproximar, tocá-lo, acalmá-lo, mas ele recuou o rosto e sacudiu a cabeça em negativa. Baixei a mão e olhei em seus olhos. Sussurrei alguma coisa que nem eu entendi, mas serviu para que ele relaxasse. Então pude tocar seu rosto.
Ele quis baixar a cabeça e eu o impedi com um beijo. Ao qual ele retribuiu, primeiro meio inseguro, mas logo com a mesma vontade de antes. Foi esticando seu corpo para trás, puxando-me para cima dele. Suas mãos corriam o meu corpo, mas sempre por cima das roupas.
Eu já não estava mais aguentando aquilo. O contato só da pele das nossas mãos, pescoço e rosto já não era mais o suficiente. Eu queria mais pele... Okay, eu queria uma coisa bem mais específica. Eu tentei novamente colocar a mão por baixo de sua camiseta.
A reação foi mais leve, mas ainda não a que eu queria. Ele parou de me beijar, afastou a cabeça e a balançou em negativo. “Porque?”, perguntei com uma expressão triste. “Tenho medo”, sussurrou. “Do que?”, “Vergonha de mim”, “Não precisa”, “Sou horrível”, “Não pra mim”.
Eu lhe selei os lábios e levantei. Ele sentou. Estava me olhando fixamente, esperando para minha próxima ação. Eu não sabia exatamente porque havia levantado, mas agora que estava em pé, só conseguia pensar em uma coisa.
Sem tentar ser sensual, simplesmente tirei a blusa. Ele não conteve um sorriso. Aquele sorriso disfarçado dele, meio de canto, fingindo que não aconteceu nada e que ele nem quer rir. Aquele sorriso que sempre me provocou arrepios. Não resisti e me aproximei, colocando as mãos em sua nuca. Ele pôs o rosto contra meu ventre e começou a beijá-lo.
Minhas pernas amoleceram e eu tive que me esforçar para me manter em pé. Suas mãos subiram pelo meu plexo solar, tocando meu peito, mas não meus seios. Pressionou os dedos contra minhas costas, me deixando louca de vontade de ser arranhada, enquanto beijava acima da barra da calça e abaixo do sutiã. Por algum motivo ele respeitava o espaço coberto pelas roupas.
Aquilo nele estava me irritando, mas pela primeira vez na vida a irritação estava me dando mais prazer. De alguma forma, aquela situação toda parecia um grande jogo... afinal, esperamos tanto tempo para ficarmos juntos que aquela ansiedade não era de toda ruim.
Eu abri minha calça. Ele sabia exatamente o que eu queria, mas ainda sim respeitava o limite das minhas roupas.
- Tu não quer?
- Quero... só que... - e ficou em silêncio, o rosto na altura do meu estômago. Rezei para que nada dentro de mim fizesse aqueles barulhos estranhos.
- O que? - mas eu já tinha entendido. A bebida não permitiu que eu me desse conta tão cedo, mas agora as coisas fazem sentido.
Ele respondeu com silêncio.
- Não me importo de tu ser gordinho, de não ter os músculos definidos, de não ter o corpo considerado gostoso. Nem se tu não tem tanta experiência quanto eu. É tu que me interessa, do jeito que tu é. É tu que eu quero - ele me olhava nos olhos, agora. Ele sabia que eu falava a verdade.
Terminei de falar e levantei a camiseta dele. Não esperei reação e a tirei de vez. Ele continuou me olhando, apenas, mas agora com cara de criança. Eu ri alto e o beijei. “Não sabe o quanto tempo eu esperei por um beijo teu”, sussurrei dentro da boca dele. Ele sorriu sem parar de me beijar. Sua risada abafada pareceu ecoar dentro da minha boca, me dando mais vontade ainda de beijá-lo.
- Precisamos ir prum quarto – disse, enquanto ele beijava meu busto a abria meu sutiã.
Sem tirar o rosto de mim, com uma mão ele catou minha blusa e a camiseta dele do chão. Então arrastou o rosto para meu pescoço, levantando, e me abraçou forte pela cintura. “Guia que não tou vendo nada”, disse beijando meu pescoço. Eu ri só pra ele, e ouvi a retribuição. Comecei a andar, com ele avançando de costas, abraçado na minha cintura e beijando meu ombro, meu pescoço e minha orelha.
- Olha o degrau – eu disse, mas ele tropeçou mesmo assim. Levantou rápido e continuamos até o quarto em que eu tava, controlando o riso para não acordarmos ninguém. Entramos no quarto, ainda abraçados e nos beijando, mesmo rindo. A porta quase bateu, e por sorte eu consegui impedi-la, enquanto ele se jogava na cama.
Não havia mais traço de timidez nenhuma nele. Ele ria em silêncio, o braço por cima dos olhos, numa posição confortável. Parecia tão inocente, ali, com o corpo a mostra, sem mais se importar. Aquilo me provocou um grande desejo, mas eu caminhei lentamente em sua direção.
Minhas mãos pousaram em seu peito. Se havia algum riso, morreu ali. Arranhando-o de leve, desci até sua calça. Abri apenas o botão, quando ele sentou e me puxou para contra ele, me beijando. Agora que corríamos menos risco, e que ele esteja finalmente solto, a noite poderia durar quanto tempo precisasse durar.